07 junho, 2004

no avião

Chegaria na cidade pela manhã bem cedo. Estava cansadíssimo, mas não conseguia dormir. Só o que fazia era ficar bem quieto, olhando pela janela, movendo as pálpebras de vez em quando para umedecer os olhos. Quando sentiu que estava entrando em uma espécie de estranho transe, resolveu pedir um café a comissária de bordo. Não queria chegar no aeroporto com o aspecto que ele imaginava que seu rosto adquiria - carregado de um cansaço antigo e de uma noite mal dormida.

Lembrou-se do café aguado que costumava beber em viagens como aquela e lamentou-se silenciosamente, com um movimento de olhar. Ele, que podia tomar duas xícaras de café preto antes de dormir sem que lhe alterassem o sono, sabia que no fundo aquele era um pedido que fazia para ludibriar seu juízo cansado.

A comissária entregou-lhe o café em um copo de isopor e ele deu um primeiro gole distraído. Estava de fato muito fraca aquela bebida, mas não se importou. Não terminou de bebê-la; ficou sentindo seu aroma enquanto olhava para fora. Pensava, inebriado pelo cansaço e pelo perfume do café, que poderia ficar mais algumas horas naquela poltrona, olhando a imensidão branca pela janela.

E já quase esquecia Marina. Isso era um maravilhoso sinal.