27 janeiro, 2007

fragmento

Foi a cena que sua memória jamais guardaria:
O ângulo formado entre a porta aberta e o batente.
A luz que escapava por essa passagem da cozinha para o corredor.
O tecido gasto que amarrava na nuca os cabelos grossos da mulher.
A mão direita dela fechando a torneira da pia de mármore.
O esmalte rosa antigo descascando horrivelmente.
O vestido que ele nunca soube se era azul-marinho muito escuro ou preto. (Mas ela dizia que era petróleo...).
A voz de um locutor descrevendo o incrível nascimento de um leopardo no zoológico misturando-se ao ruído último jato d`água da torneira.
A conta de gás estrategicamente deixada sobre a cadeira onde ele costumava guardar sua maleta do serviço.
Os três latidos esganiçados do Peter no quintal.
O convite entusiasmado para ir com a mulher ao zoológico no sábado visitar o bebê leopardo.