23 março, 2005

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enquanto este instante desaba,
não há nada a vos oferecer, meus caros.
a saudade do difícil que não houve,
tal escrita cicatriza no desaparecimento,
com a mulher respirando certa despedida.
ouvi este chão que vos nada oferece,
rente à fábula, tarde o desprezo cai,
degolando o soluço dos vossos cactos,
e nada. ainda nada a vos oferecer.
o sol se despede do peso dos vossos cílios,
o abraço do amigo, esta pedra absoluta,
um quase que há na réstia de voz destas folhas dormidas,
recebeis uma carta de longe, muito longe, sem remetente.
retirais uma ficha do montante, cedo já o revés e pronto,
tal sinfonia não pára, as nuvens sabem muito bem disto,
assim como os barcos, na insônia dos corais,
logo indiferentes ao apelo de vossos perfumes,
e nada a vos oferecer mais esta vez.
há um coro clamando, a maré se reparte em pelotões,
uma flecha na garganta dos vossos sonhos e não mais se diz.
o coro convulsa, sinos rebentam, pássaros relampejam,
definitivamente nada a vos oferecer, meus caros,
nem de cada átomo explodindo no avesso da vossa retina,
tal manhã já não é mais isto que ficou de outono
nas minhas pálpebras e o que foi embora
com o verão na ponta de vossos dedos,
tantas pétalas se dobram e se fecham mesmo por aqui,
é noite, o silêncio nasce sorrindo, isto basta.

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