19 abril, 2005

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, desta vez preferiu tomar café sem açúcar, um rente desejo de estragar com maravilhas seu formidável e obstinado corpo, realizando, afinal, um gesto de prolongamento dos últimos acontecimentos. em cada minuto sorvia e comparava a amargura na língua com o ranço da memória recente, ainda cintilando de exasperação, mais uma confirmação de que quase nada valia a pena, de que a existência e o estabelecimento das coisas, de qualquer coisa, viva ou morta, não dependiam delas próprias, como se todas elas possuíssem um personagem sátiro apunhalando e incitando suas ações, largando-as ao léu, nada, absolutamente nada dependia das coisas, as coisas não fazem acontecer, elas se acontecem e se deixam. as vontades e desejos não dependiam das coisas em si, que se abandonavam cheias de ternura, pois os sátiros apunhalando, mesmo o café, já um pouco morno, cantando estrelas no sonolento estômago, e entretanto este inegável estar incontinenti aqui agora. a distração destes corpos emperrados, destas solas gastas da procura sem busca impunham-lhe um irrefreável sorriso das interrupções e do golpe categórico que pôs a pedra nestes pulmões, e a incomunicabilidade entre todas as coisas, e as fissuras dos desencontros recorriam depressa e sátiros atravessavam o bocejo brusco da insistência, o café sem açúcar morto de frio e era preciso fazer , era preciso, era, e,

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2 Comments:

Blogger vanessa reis said...

continuo lendo.

19 abril, 2005 22:41  
Blogger Pablo Araujo said...

´tá ok,

20 abril, 2005 19:31  

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