17 outubro, 2005

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Agora só espero a despalavra: a palavra nascida
para o canto - desde os pássaros.
A palavra sem pronúncia, ágrafa.
Quero o som que ainda não deu liga.
Quero o som gotejante das violas de cocho.
A palavra que tenha um aroma ainda cego.
Até antes do murmúrio.
Que fosse nem um risco de voz.
Que só mostrasse a cintilância dos escuros.
A palavra incapaz de ocupar o lugar de uma
imagem.
O antesmente verbal: a despalavra mesmo.



[Manoel de Barros, no livro Retrato do Artista Quando Coisa]


.

6 Comments:

Blogger vanessa reis said...

sempre lindo o Manoel de Barros... ele mudou muito minha relação com a poesia - e, portanto, com a vida. O que mais amo dele é uma didática da invenção... leram, né?

21 outubro, 2005 12:14  
Blogger Pablo Araujo said...

Este comentário foi removido por um administrador do blog.

21 outubro, 2005 17:08  
Blogger Pablo Araujo said...

os poemas do manoel desfazem com mínimo esforço os nós da linguagem:

como cadarços que andaram muito tempo apertados e afinal se soltaram limpidamente com sua leitura,

luz de rã a nossos pés.

beijo vanessa

21 outubro, 2005 17:12  
Blogger Fernando Palma said...

Este é um dos poetas que me alfabetizou. Irresisto quando vejo seus poemas.
Gostei do seu espaço.

Abraço.

23 outubro, 2005 18:09  
Anonymous Anônimo said...

gostei daqui, várias pessoas postam. meu blog um dia foi assim: uma equipe. agora me resta a mim eu mesmo; e uns leitores. ufa.

parece uma antologia. dei uma olhada geral e vi vários poetas diferentes, inclusive poetas da casa.

cheguei aqui pelo blog da angelica (que entrou de férias para trabalho).

abraços;

thiago ponce

23 outubro, 2005 23:24  
Blogger Pablo Araujo said...

fernando e thiago, fiquem à vontade, o beco é de todos. valeu pela visita.

abraços

25 outubro, 2005 12:38  

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