23 dezembro, 2005


( feito por Fred Girauta. muitos outros em www.palavrorio.com )


Mais quatro poemas, recortados do livro Na Virada do Século - Poesia de Invenção no Brasil. Landy Editora. 2002.

O primeiro, de André Dick. O segundo, de Antonio Risério. O terceiro, de Fabiano Calixto. O último, um trecho de Rodrigo Garcia Lopes.








ALGUMA PALAVRA


alguma palavra,
fragmento, saudade,
cheiro que,

quando a porta
se fecha, apenas
deixa de sê-lo,

a não ser -
enquanto existe -
costuma durar,

ficando, às vezes,
na roupa, no cabelo,
na manga da camisa

como cheiro de cigarro
sem a pretensão
de existir.


*



LEMINSKIANA


Querido Enigma:
estou bêbado.

Vou, como se diz,
pisando nas asas.

Paro num estrela
e sorteio o mar.

Mas estranho
- e muito -
o meu e o teu

linjaguar.


*



JOÃO CABRAL DE MELO NETO


casulo-caneta: de onde
silêncios rosnam sóbrios.

não de fome de som. mas
de sonhos-eco, de formas

abertas ao estalo. ao pulso.
não o que suporta a dor e

sim o que faz dela pa-
lavras. caça entre reti-

cências mudas, o alvo caro.
não ouro ou preciosas

pedras — que não sejam as
próprias —, mas as de uma

ruína de árvore ainda
intacta. relíquia ín-

tima. algo como a alquimia
— contrária — dentro das tripas.


*



AGHARTA ( fragmento)


ERÓTICA DAS SOMBRAS


Lendo na contra-luz que o tempo alucina
Nas rótulas de ondas que em amarelo artéria barbarizam
Enquanto a boca apressa, sibilina,
entre sons (devorados de sentidos). Içam
o mar vertiginoso e kanjis de nuvens
nos olhos cheios de deus, Sal.
No biombo das montanhas — rugem
No sfumatto mental da fala e do Caos.
Na textura sépia da superfície de sons
Uma face letal lateja e se transmuta
(Estátua de estrondos, trilha de acenos)
Muda e nos sorri. Escuta
os espelhismos cifrados da manhã,
Lábio, na pele da romã.



.

2 Comments:

Blogger Gisella Hiche said...

e não me livro

23 dezembro, 2005 14:50  
Anonymous Anônimo said...

e não mesmo, gi.

23 dezembro, 2005 15:25  

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