( feito por Fred Girauta. muitos outros em www.palavrorio.com )
Mais quatro poemas, recortados do livro Na Virada do Século - Poesia de Invenção no Brasil. Landy Editora. 2002.
O primeiro, de André Dick. O segundo, de Antonio Risério. O terceiro, de Fabiano Calixto. O último, um trecho de Rodrigo Garcia Lopes.
ALGUMA PALAVRA
alguma palavra,
fragmento, saudade,
cheiro que,
quando a porta
se fecha, apenas
deixa de sê-lo,
a não ser -
enquanto existe -
costuma durar,
ficando, às vezes,
na roupa, no cabelo,
na manga da camisa
como cheiro de cigarro
sem a pretensão
de existir.
*
LEMINSKIANA
Querido Enigma:
estou bêbado.
Vou, como se diz,
pisando nas asas.
Paro num estrela
e sorteio o mar.
Mas estranho
- e muito -
o meu e o teu
linjaguar.
*
JOÃO CABRAL DE MELO NETO
casulo-caneta: de onde
silêncios rosnam sóbrios.
não de fome de som. mas
de sonhos-eco, de formas
abertas ao estalo. ao pulso.
não o que suporta a dor e
sim o que faz dela pa-
lavras. caça entre reti-
cências mudas, o alvo caro.
não ouro ou preciosas
pedras — que não sejam as
próprias —, mas as de uma
ruína de árvore ainda
intacta. relíquia ín-
tima. algo como a alquimia
— contrária — dentro das tripas.
*
AGHARTA ( fragmento)
ERÓTICA DAS SOMBRAS
Lendo na contra-luz que o tempo alucina
Nas rótulas de ondas que em amarelo artéria barbarizam
Enquanto a boca apressa, sibilina,
entre sons (devorados de sentidos). Içam
o mar vertiginoso e kanjis de nuvens
nos olhos cheios de deus, Sal.
No biombo das montanhas — rugem
No sfumatto mental da fala e do Caos.
Na textura sépia da superfície de sons
Uma face letal lateja e se transmuta
(Estátua de estrondos, trilha de acenos)
Muda e nos sorri. Escuta
os espelhismos cifrados da manhã,
Lábio, na pele da romã.
.
2 Comments:
e não me livro
e não mesmo, gi.
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