14 dezembro, 2005


















Pierre-Auguste Renoir. Monet painting in his garden at Argenteuil, 1873





Singeleza


Abre-se a cancela do jardim
com a docilidade da página
que uma freqüente devoção interroga
e dentro os olhares
não precisam deter-se nos objetos
que já estão cabalmente na memória.
Conheço os costumes e as almas
e esse dialeto de alusões
que todo agrupamento humano vai urdindo.
Não necessito falar
nem mentir privilégios;
bem me conhecem aqueles que aqui me rodeiam,
bem sabem minhas penas e minha fraqueza.
Isso é alcançar o mais alto,
o que talvez nós dará o Céu:
não admirações nem vitórias
mas simplesmente ser admitidos
como parte de uma Realidade inegável,
como as pedras e as árvores.



Jorge Luis Borges


.

1 Comments:

Anonymous Anônimo said...

oi celso,

borges é incontornável mesmo, não? ando sempre lendo e relendo, principalmente os contos.

acabei de visitar tua página. deixei um recado lá.

abraço

16 dezembro, 2005 14:37  

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