19 setembro, 2005

a vida, um objeto recente


A mortalidade de sua matéria é o que
dá para começar: a ponto de permanecer
desejada encontra a pérola e o apelido.
Vida como dádiva duradoura, como foi
a do búfalo e antes, a da pantera.
Entre largos passos até cruzar a bruma
além da alvorada somada à pessoa
do pajem que pergunta pelo anfitrião.
A tempo de possuir o que nunca nasceu,
a manhão derrama lebréis de brilho,
a letra que à voz anuncia nações,
nada mais que a solução de sempre.
Chega a chuva, a rotina da água
e o ócio que por certo cai em desuso:
a lua no feno faz a planície, o
inverno ao cervo que alcança a ceder.
Por sua imundície o lugar foi reduzido,
convertido em algo como corno e aí:
a flecha conhecida ao restar cravada,
o corpo disposto pela possibilidade.
Poderia resumir-se assim: a margem das
lembranças se origina com o gerúndio e a
canção levada ao crocitar do sussurro.
Cervo, erva e logo louvam ao vento:
a casa encontra o limite desconhecido.
De toda sua estatura faz sentir ao céu.
Dorme a pele apesar do que passa.
Os olhos tomam como verdade as palavras
as coisas buscam um lugar na visão.


[poema do uruguaio eEduardo espina, encontrado em jardim de camaleões - a poesia neobarroca na américa latina, ed. iluminuras, 2004.]

1 Comments:

Blogger Pablo Araujo said...

a tradução é de cláudio daniel.

21 setembro, 2005 11:12  

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