(Kazimir Malevitch. Quadro branco sobre fundo branco. 1918)
Ele põe um pedaço de papel em branco sobre a mesa à sua frente e escreve estas palavras com a sua caneta. Foi. Nunca será de novo.
Mais tarde naquele mesmo dia, ele volta para seu quarto. Encontra uma folha de papel novinha e a põe sobre à sua frente. Escreve até encher toda a página com palavras. Depois, quando lê o que escreveu, tem dificuldade para decifrar as palavras. Aquelas que consegue entender não parecem dizer o que ele achava que estava dizendo. Em seguida sai para jantar.
Naquela noite, diz a si mesmo que amanhã é outro dia. Novas palavras começam a gritar em sua cabeça, mas ele não as escreve. Resolve referir-se a si mesmo como A. Anda para lá e para cá, entre a mesa e a janela. Liga o rádio e depois desliga. Fuma um cigarro.
Em seguida escreve. Foi. Nunca será de novo.
em A Invenção da Solidão, Paul Auster, Companhia das Letras.
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