26 outubro, 2005


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Dília Franguito
Aquí no mato, 1977
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ngoma do negro metal


Do negro metal de Cassinga hoje o ngoma
ergue o eco de vozes canonizadas
pela extrema-unção do fuzil. E o navio
de bocas ressarcidas morde musical
o reescrito papel do oceano.
Nos élitros da noite os cães fecundam
o antropométrico cenário: entre raízes
o ventre da morte estala vertical.





o quarto


o quarto é o chegar secreto
da partida de nós mesmos.
O ramo inteiro
que poisa sobre o pássaro
do nosso pensamento.
O quarto onde os sonhos nunca
nascem mas estão sempre
prestes a aviltar
todo o nosso aroma clavicular.
O quarto é o deserto
de um grão de sorte
na túnica do tempo.
Ouvem-se murmúrios
dos cem anéis de Saturno
em cada poro de sermos
a carta da intimidade.
Com que Deus se apresenta




(poemas de José Luís Mendonça, em ngoma do negro metal. Edições chá de caxinde, 2000)

1 Comments:

Blogger Pablo Araujo said...

ngoma é um tipo de tambor musical.

27 outubro, 2005 13:08  

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