05 novembro, 2005

S 2
A Espiral e o Quadrado

Crer que os dois personagens e a sala de um fausto declinante onde se encontram tenham para o narrador mai nitidez que o texto - vagarosamente elaborado e onde cada palavra se revela aos poucos, passo a passo com o mundo nelas refletido - seria enganoso. Não haveria cidades sonhadas se não construíssemos cidades verdadeiras. Elas dão consistência, na imaginação humana, às que só existem no nome e no desenho. Mas às cidades vistas nos mapas inventado, ligadas a um espaço irreal, com limites fictícios e uma topografia ilusória, faltam paredes e ar. Elas não têm a consistência da prancheta, do transferidor ou do nanquim com que trabalha o cartógrafo: nascem com o desenho e assumem realidade sobre a folha em branco. Aonde chegria o inadvertido viajante que ignorasse este princípio? Elaborar um mapa de cidades ou de continentes imaginários, com seu relevo e contorno, assemelha-se portanto a uma viagem no informe. Pouco sabe do invento o inventor, antes de o desvendar com o seu trabalho. assim na construção aqui iniciada. Só um elemento, por enquanto, é claro e definitivo: rege-a uma espiral, se ponto de partida, sua matriz, seu núcleo.
AVALOVARA, de Osman Lins.