21 abril, 2006

Les Pas

Tes pas, enfants de mon silence,
Saintement, lentement placés,
Vers le lit de ma vigilance
Procédent muets et glacés.

Personne pure, ombre divine,
Qu´ils sont doux tes pas retenus!
Dieu! - tous les dons que je devine
Viennent à moi sur ces pieds nus!

Si, de tes lèvres avancées,
Tu prépares pour l´apaiser,
A l´habitant de mês pensées
La nourriture d´un baiser,

Ne hâtes pas cet acte tendre,
Douceur d´être et de n´être pas,
Car j´ai vécu de vous attendre,
Et mon coeur n´était que vous pas.

Paul Valéry


O Passo

Teu passo, inato ao meu silêncio,
beira sagradamente, a fio,
meu leito insone e, com imenso
vagar, vem vindo mudo e frio.

Sombra divina, forma pura:
Deus!... tudo o que de bom supus
- passo contido, que doçura! -
já se aproxima com pés nus.

Se, lábios entreabertos, frente
a mim, reservas ao desejo
faminto que me ocupa a mente
este alimento que é teu beijo,

mantém o enlevo ainda à parte
(no doce impasse existo e passo)
pois, ao viver só de esperar-te,
meu coração pôs-se em teu passo.

tradução de Nelson Ascher


Os passos

Filhos do meu silêncio amante,
Teus passos santos e pausados,
Para o meu leito vigilante
Caminham mudos e gelados.

Que bons que são, vulto divino,
Puro ser, teus passos contidos!
Deuses!... os bens do meu destino
Me vêm sôbre êsses pés despidos.

Se trazes, nos lábios risonhos,
Para saciar o seu desejo,
Ao habitante dos meus sonhos
O alimento feliz de um beijo,

Retarda essa atitude terna,
Ser e não ser, dom com que faço
Da vida a tua espera eterna,
E do coração o teu passo.

tradução de Guilherme de Almeida

18 abril, 2006

Dorme Tomilho
acorde com o pulo
do lado de lá

12 abril, 2006

perdida nas palavras
mergulho no inominável
sairei desse mar com a frase- vento, oração densa.

10 abril, 2006

dia de nuvem

Cansaço
Deixo-me partir para o alto
longe das linhas

Condenso-me em grande mancha
A pele me pressiona; quer ser minha margem
Sopro meus limites

No coração, uma fumaça amarelada já não agüenta mais esperar
depois do topo das montanhas
antes do vôo das gaivotas.


- largue versos mornos!



Arranco fiapos de um cobertor
com a ponta dos dedos enrolo bolinhas
deixo-as chover
num vôo leve e desconcentrado.

05 abril, 2006

POESIA


Também não gosto.
.....Lendo-a, no entanto, com total desprezo, a
.....................................[ gente acaba descobrindo
.....nela, afinal de contas, um lugar para o genuíno.





POETRY


I, too, dislike it.

.....Reading it, however, with a perfect contempt
.................................[ for it, one discovers in

.....it, after all, a place for the genuine.





(Marianne Moore em: Poemas. Tradução de José Antonio Arantes .Companhia das Letras, São Paulo, 1991)

04 abril, 2006

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o sol rebrilha
na superfície d'água
tudo coração
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(haicai de Pablo Araujo)