29 dezembro, 2005


Coyote, revista de literatura e arte editada em Londrina (PR), chega ao seu 13° número trazendo um dossiê dedicado a Paulo Leminski (1944-1989), com entrevista inédita concedida em 1982, crônicas e traduções pouco conhecidas, manuscritos e trechos de obras como Metaformose e Catatau. A revista apresenta também, em primeira mão, a poesia do escocês Edwin Morgan, traduzido e apresentado por Virna Teixeira. Recuando no tempo, Alberto Mussa apresenta quatro poetas beduínas árabes dos séculos 16 e 17, traduzidas diretamente do árabe. Além das fotos de Edson Kumasaka, que assina a capa, Coyote traz um ensaio de Claudio Daniel sobre a poesia brasileira contemporânea e poemas inéditos de Josely Vianna Baptista. Coyote é editada pelos poetas Rodrigo Garcia Lopes, Marcos Losnak e Ademir Assunção. Projeto gráfico: Marcos Losnak e Joca Reiners Terron. A periodicidade é trimestral e a distribuição, nacional (em livrarias) pela Editora Iluminuras.

Vendas em livrarias ou pelo site
http://www.iluminuras.com.br/
e-mail: revistacoyote@uol.com.br
Contatos: (11) 37313281 e (43) 33343299

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28 dezembro, 2005

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What Was Lost


I SING what was lost and dread what was won,
I walk in a battle fought over again,
My king a lost king, and lost soldiers my men;
Feet to the Rising and Setting may run,
They always beat on the same small stone.


William Butler Yeats

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23 dezembro, 2005

S 2
A Espiral e o Quadrado

Crer que os dois personagens e a sala de um fausto declinante onde se encontram tenham para o narrador mais nitidez que o texto - vagarosamente elaborado e onde cada palavra se revela aos poucos, passo a passo com o mundo nelas refletido - seria enganoso. Não haveria cidades sonhadas se não construíssemos cidades verdadeiras. Elas dão consistência, na imaginação humana, às que só existem no nome e no desenho. Mas às cidades vistas nos mapas inventado, ligadas a um espaço irreal, com limites fictícios e uma topografia ilusória, faltam paredes e ar. Elas não têm a consistência da prancheta, do transferidor ou do nanquim com que trabalha o cartógrafo: nascem com o desenho e assumem realidade sobre a folha em branco. Aonde chegria o inadvertido viajante que ignorasse este princípio? Elaborar um mapa de cidades ou de continentes imaginários, com seu relevo e contorno, assemelha-se portanto a uma viagem no informe. Pouco sabe do invento o inventor, antes de o desvendar com o seu trabalho. assim na construção aqui iniciada. Só um elemento, por enquanto, é claro e definitivo: rege-a uma espiral, se ponto de partida, sua matriz, seu núcleo.
AVALOVARA, de Osman Lins.

( feito por Fred Girauta. muitos outros em www.palavrorio.com )


Mais quatro poemas, recortados do livro Na Virada do Século - Poesia de Invenção no Brasil. Landy Editora. 2002.

O primeiro, de André Dick. O segundo, de Antonio Risério. O terceiro, de Fabiano Calixto. O último, um trecho de Rodrigo Garcia Lopes.








ALGUMA PALAVRA


alguma palavra,
fragmento, saudade,
cheiro que,

quando a porta
se fecha, apenas
deixa de sê-lo,

a não ser -
enquanto existe -
costuma durar,

ficando, às vezes,
na roupa, no cabelo,
na manga da camisa

como cheiro de cigarro
sem a pretensão
de existir.


*



LEMINSKIANA


Querido Enigma:
estou bêbado.

Vou, como se diz,
pisando nas asas.

Paro num estrela
e sorteio o mar.

Mas estranho
- e muito -
o meu e o teu

linjaguar.


*



JOÃO CABRAL DE MELO NETO


casulo-caneta: de onde
silêncios rosnam sóbrios.

não de fome de som. mas
de sonhos-eco, de formas

abertas ao estalo. ao pulso.
não o que suporta a dor e

sim o que faz dela pa-
lavras. caça entre reti-

cências mudas, o alvo caro.
não ouro ou preciosas

pedras — que não sejam as
próprias —, mas as de uma

ruína de árvore ainda
intacta. relíquia ín-

tima. algo como a alquimia
— contrária — dentro das tripas.


*



AGHARTA ( fragmento)


ERÓTICA DAS SOMBRAS


Lendo na contra-luz que o tempo alucina
Nas rótulas de ondas que em amarelo artéria barbarizam
Enquanto a boca apressa, sibilina,
entre sons (devorados de sentidos). Içam
o mar vertiginoso e kanjis de nuvens
nos olhos cheios de deus, Sal.
No biombo das montanhas — rugem
No sfumatto mental da fala e do Caos.
Na textura sépia da superfície de sons
Uma face letal lateja e se transmuta
(Estátua de estrondos, trilha de acenos)
Muda e nos sorri. Escuta
os espelhismos cifrados da manhã,
Lábio, na pele da romã.



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21 dezembro, 2005

( concebido pelo poeta catalão Joan Brossa)

confiram mais em www.joanbrossa.org

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20 dezembro, 2005

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We are not to know why
this and that masters us;
real life makes no reply,
only that it enraptures us

makes us familiar with it


May, 1924



Rainer Maria Rilke
[Translated by John J.L.Mood]


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16 dezembro, 2005

Zunái, Revista de Poesia e Debates, apresenta em sua oitava edição um caderno especial sobre os 50 anos da Poesia Concreta, primeiro movimento de vanguarda surgido no Brasil com repercussão internacional. A poesia brasileira recente está representada por autores como Carlos Augusto Lima, Wilson Sena e Izabela Leal, e o link de traduções traz poemas de William Carlos Williams, Tristan Tzara, César Vallejo, Cummings e Michaux, entre outros. Ensaios sobre poesia portuguesa e latino-americana incentivam o diálogo entre os dois universos lingüísticos, seguindo a proposta da revista de ampliação do repertório literário. Uma entrevista com o poeta cubano José Kozer e uma matéria especial sobre Franz Weissmann são outros destaques da edição, que apresenta ainda obras da artista plástica Maria Angela Biscaia, com ensaio de Francisco Faria e Josely Vianna Baptista.

14 dezembro, 2005


















Pierre-Auguste Renoir. Monet painting in his garden at Argenteuil, 1873





Singeleza


Abre-se a cancela do jardim
com a docilidade da página
que uma freqüente devoção interroga
e dentro os olhares
não precisam deter-se nos objetos
que já estão cabalmente na memória.
Conheço os costumes e as almas
e esse dialeto de alusões
que todo agrupamento humano vai urdindo.
Não necessito falar
nem mentir privilégios;
bem me conhecem aqueles que aqui me rodeiam,
bem sabem minhas penas e minha fraqueza.
Isso é alcançar o mais alto,
o que talvez nós dará o Céu:
não admirações nem vitórias
mas simplesmente ser admitidos
como parte de uma Realidade inegável,
como as pedras e as árvores.



Jorge Luis Borges


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08 dezembro, 2005

AMOR DE IMPROVISO

Nessa segunda-feira, às 21h; dia 12/12, acontece a última apresentação do espetáculo "Amor de Improviso" com a Cia. Elevador de Teatro Panorâmico. A peça está no Viga Espaço Cênico, rua Capote Valente, 1312, Pinheiros. A direção é de Marcelo Lazzaratto.


SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
"Amor de Improviso" propõe um desafio instigante para o crítico. Como avaliar um espetáculo concebido para ser volátil, cuja trama dura apenas o efêmero momento em que é vista pelo público, e que nunca é a mesma de uma apresentação para a outra? Como o crítico pode julgar a performance de um determinado ator, se na sessão seguinte ela não será a mesma? Isso não é teatro, diriam os mais ortodoxos, ciosos pela reprodutibilidade do produto. Mas essa exploração das fronteiras do teatral tem o valor justamente de instigar o espectador, profissional ou não, a ir além do reconhecimento de uma fórmula consagrada. Em tempos em que shows milionários têm como chamariz justamente o fato de ser cópia fiel de um modelo distante no tempo e no espaço, a proposta do grupo Elevador de Teatro Panorâmico vem justamente resgatar a dignidade da criação artística: a de ser uma investigação de alto risco. O improviso não é novidade em teatro, dirão outros: faz parte integrante da busca da "memória emotiva" segundo o método Stanislavski (que, ao promover a identificação entre ator e personagem, acabou originando o psicodrama). Da mesma forma, durante o século 16, para os atores da commedia dell'arte, bastava uma trama a ser "bordada" a cada dia, sem texto fixo. Na experiência do Elevador Panorâmico, no entanto, o acaso é incorporado em doses bem maiores. O que o crítico pode antecipar é que o público poderá ver o diretor em cena, instigando caminhos possíveis ao pé do ouvido de cada ator, não raro com estímulos concretos (no dia testemunhado, um jarro de água foi despejado em cima de uma atriz, para seu idílio, culminando uma cena de amor). O próprio público é convidado para essa função: recebe ao acaso uma tarefa, em envelope, sobe ao palco e comunica-a ao ator de sua escolha, que deve concretizá-la imediatamente.Não se trata aqui de consagrar uma fórmula. Mesmo a técnica específica de Lazzaratto, o "campo de visão", pela qual o ator constrói sua marca em sintonia com o movimento de seus colegas, não é garantia de um espetáculo bem-sucedido. Nem todo experimental é relevante apenas por ser experimental, por mais que se arrisque. O que acontece aqui é que se trata de um espetáculo sobre o amor, seus riscos e heroísmos, seus lugares-comuns e esquizofrenias, concebido para ser feito em uma situação análoga ao apaixonado - estratégia usada por Roland Barthes, em "Fragmentos do Discurso Amoroso". E é a adequação entre a forma e o conteúdo, e a coragem e alegria dos atores, que garante o espetáculo.
osso

aperta os dedos no meu braço
deita a cabeça num osso que abandona meu ombro
tem um nome
não me lembro
aperta os dedos
aperta
faz dois dias que não choro
repete não ouvi
não, nada




Caetano Gotardo

07 dezembro, 2005

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cada poro — livro ancestral — do núcleo à superfície do planeta lê contra nossos globos oculares.

continentes, girassóis, oceanos e iguanas trabalham a sinfonia de magmas abissais, objetos desconhecidos arremessados por um remoto navegador, do qual nunca saberemos o nome.

então jogos e armadilhas lacrimais: circunavegação abrupta orquestrasse falcão, falésia, vermelho, púbis enquanto o imenso eixo das estações e cidades — repaginado céu a céu — não saberá da tintura de silício sob a pele como último esquecimento proposital.

há muito a mesma partitura ao golpe dos séculos e cópulas, sem naipe nenhum da primeira tempestade — clave de cromossomos — que se abriu e fecha entre nossas embarcações.

:
silêncio absoluto na órbita fiel a todos os pontos cardeais.





(poema de Pablo Araujo, ainda a ser mexido e remexido)


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06 dezembro, 2005























Giuseppe Arcimboldo. The Librarian, 1556





Claudio Daniel



Zauberbuch

a Jorge Luis Borges


Todos
os livros
— os Sutras, o Corão
os Vedas, o Zohar —
são enigmas: jardins verticais
rios insubmissos
listras de mármore possesso;
todas as páginas
— em lâminas de argila, pele de carneiro
folhas de papyro ou rubro ouro esculpido —
são impossíveis, viscerais
areia alucinada.
Os livros, Borges, inventam os leitores
e os nomes de vales, savanas, estepes
e de amplas avenidas que ignoramos;
vivemos essa efêmera realidade
para lermos suas secretas linhas,
e nossos filhos e netos.
Um dia, porém, os livros
— últimos demiurgos — desaparecerão,
como o grifo e o licorne
e ler será apenas lenda.




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05 dezembro, 2005

O curta-metragem Murilo Mendes: a poesia em pânico (1972), dirigido por Alexandre Eulálio, será exibido na Sala de Cursos da Fundação Casa de Rui Barbosa (Rua São Clemente, 134 – Botafogo – Rio de Janeiro/RJ), no dia 6 de dezembro, às 16h.

O evento, com entrada franca, é uma homenagem ao poeta Murilo Mendes, falecido há 30 anos. Após a exibição do documentário de 21 minutos está programada mesa-redonda com a participação de João Carlos Horta (fotógrafo do filme), do crítico Silviano Santiago e do pesquisador Júlio Castañon Guimarães (Fundação Casa de Rui Barbosa).

03 dezembro, 2005


foto: guilherme mohallem
Originally uploaded by Kinzo.


foto: guilherme mohallem
Originally uploaded by Kinzo.


foto: guilherme mohallem
Originally uploaded by Kinzo.