27 outubro, 2005

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está em cima da hora, mas

HOJE! 27/10


Lançamento da Revista Grumo 4
Armazém Digital.
Shopping Rio Design.
Avenida Ataulfo de Paiva 270, lojas 103 e 104
Leblon, Rio de Janeiro, RJ
mais ou menos às 19:oo

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26 outubro, 2005

ATRAÇÃO DOS ANTÍPODAS


Na noite de uma dor que nunca passa, vou até a praça e a velha árvore me olha: ela, a fincada no lugar, e eu, o animal arisco-do-lugar-nenhum.


[Juliano Garcia Pessanha em: Certeza do Agora]

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Dília Franguito
Aquí no mato, 1977
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ngoma do negro metal


Do negro metal de Cassinga hoje o ngoma
ergue o eco de vozes canonizadas
pela extrema-unção do fuzil. E o navio
de bocas ressarcidas morde musical
o reescrito papel do oceano.
Nos élitros da noite os cães fecundam
o antropométrico cenário: entre raízes
o ventre da morte estala vertical.





o quarto


o quarto é o chegar secreto
da partida de nós mesmos.
O ramo inteiro
que poisa sobre o pássaro
do nosso pensamento.
O quarto onde os sonhos nunca
nascem mas estão sempre
prestes a aviltar
todo o nosso aroma clavicular.
O quarto é o deserto
de um grão de sorte
na túnica do tempo.
Ouvem-se murmúrios
dos cem anéis de Saturno
em cada poro de sermos
a carta da intimidade.
Com que Deus se apresenta




(poemas de José Luís Mendonça, em ngoma do negro metal. Edições chá de caxinde, 2000)

25 outubro, 2005

Emily Dickinson



I’m Nobody! Who are you?
Are you — Nobody — Too?
Then there’s a pair of us?
Don’t tell! They’d advertise — you know!


How dreary — to be — Somebody!
How public — like a Frog —
To tell one’s name — the livelong June —
To an admiring Bog!






Não sou Ninguém. Quem é você?
Ninguém — Também?
Então somos um par?
Não conte! Podem espalhar.


Que triste — ser — Alguém!
Que pública — a Fama!
Dizer seu nome — como a Rã —
Para as palmas da Lama.




(Tradução de Augusto de Campos. Em: O Anticrítico. Companhia das Letras, 1986)

17 outubro, 2005

16


Agora só espero a despalavra: a palavra nascida
para o canto - desde os pássaros.
A palavra sem pronúncia, ágrafa.
Quero o som que ainda não deu liga.
Quero o som gotejante das violas de cocho.
A palavra que tenha um aroma ainda cego.
Até antes do murmúrio.
Que fosse nem um risco de voz.
Que só mostrasse a cintilância dos escuros.
A palavra incapaz de ocupar o lugar de uma
imagem.
O antesmente verbal: a despalavra mesmo.



[Manoel de Barros, no livro Retrato do Artista Quando Coisa]


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13 outubro, 2005





. do fotógrafo cego esloveno Evgen Bavcar.

confiram:
www.zonezero.com/exposiciones/fotografos/bavcar/index.html

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Lançamento do livro Ciao Cadáver (Coleção Alguidar/Editora Landy)
de Delmo Montenegro

Domingo, 16 de outubro de 2005 às 17h
espaço Café Continente
V Bienal Internacional do Livro de Pernambuco
Centro de Convenções de Pernambuco
Complexo Viário Vice Governador Barreto Guimarães,
s/n Salgadinho - CEP 53111-970 Olinda - PE

Na ocasião haverá debate e recital com a presença dos escritores Amador Ribeiro Neto, Antônio Mariano Lima e Frederico Barbosa.

11 outubro, 2005


tear azul

Desde o dia em que nasci
Eu me descosturei
Do rasgo ferveu o mar primordial
Trabalho dia e noite
Com linhas coloridas
Retalhos ficaram nas redes de um pescador faminto
Ele é um homem azul
Que assobia para os siris
Esse homem sou eu
Antes de entrar no mar
Dentro do barco, tiro minhas agulhas e desenho nos remos olhos que enxergam o fundo das águas

10 outubro, 2005

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balthus. o rei dos gatos

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g

Era um gato de ébano
estático e mudo:
um gato geométrico
talhando em silêncio
o seu salto mais duro.
Era um gato macio
se visto de perto,
um bicho de carne
ao olho certeiro,
arrepio de sombra
subindo nas pernas,
um lance no escuro,
um tiro no espelho.
O gato era um ato,
uma estátua viva,
uma lâmpada acesa
no umbigo de Alice.
Era um gato concreto
no meio da sala:
era uma palavra
afiando palavras.
Era a fome do gato
e sua pata à espreita,
veludo-armadilha:
uma única letra.



[poema de Micheliny Verunschk, encontrado na revista coyote nº6]