kazashiKata. O gesto já moldado, a nota fixa da partitura.
Há anos fazendo os katas, fiéis à tradição, os artesãos do corpo atingem o hana, a flor - e em cada um a flor é de um jeito.
O que muda é a flor.
Ela aprendia um kata. Chamava-se kazashi, intraduzível para o português. E repetia o gesto, todo dia, com a dúvida atrás do pensamento - mas o que é isso? O que pode ser isso?
"Tem coisa que não se pergunta, menina. Tem coisa que não se fala, que não se responde. O que a gente faz é tomar pra si".
Depois de muito tentar tomar pra si o gesto, no entanto, não resistiu. Foi atrás dele e lhe fez a pergunta - o que é um kazashi?
Ele a olhou pensativo, não achava tradução. Então a tomou pelo braço, "vem cá. Olha lá".
Lá o sol se punha. Olhou distante, os olhos se fecharam de tanta luz e ela amparou o olhar com a mão em concha.
"É isso, menina. Kazashi. Um amparo para o olhar, talvez".
E acrescentou, tímido, "e que é todo esse seu gesto comigo desde que eu cheguei aqui".
Ela, por dentro, sorriu.