30 maio, 2006


GUARDAR

Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la.
Em cofre não se guarda coisa alguma.
Em cofre perde-se a coisa à vista.
Guardar uma coisa é olhá-la, fitá-la, mirá-la por
admirá-la, isto é, iluminá-la ou ser por ela iluminado.
Guardar uma coisa é vigiá-la, isto é, fazer vigília por
ela, isto é, velar por ela, isto é, estar acordado por ela,
isto é, estar por ela ou ser por ela.
Por isso melhor se guarda o vôo de um pássaro
Do que um pássaro sem vôos.
Por isso se escreve, por isso se diz, por isso se publica,
por isso se declara e declama um poema:
Para guardá-lo:
Para que ele, por sua vez, guarde o que guarda:
Guarde o que quer que guarda um poema:
Por isso o lance do poema:
Por guardar-se o que se quer guardar.



(Antonio Cicero em: GUARDAR - poemas escolhidos. Ed.Record, Rio de Janeiro)

27 maio, 2006






















(Georges La Tour. joseph the carpenter, 1645)




O FUTURO


Ergui-me com rapidez aquela noite, pois ouvira
.........uma batida à porta.
"Quem está aí?" perguntei.
E respondeu-me alguém do
.........outro lado:
"O futuro".
"O que você quer?" perguntei
"Sua vida" ele disse, "seus préstimos, suas
........angústias nas lidas...
Exijo tudo".
"E qual o pagamento?" perguntei.
"A morte..."
Silenciamos os dois: a neve caía nas
ruas...
A noite estava tranquila.
" E isto é tudo?" perguntei.
"Sim, tudo..."
"E quem ganhará com o meu trabalho?"
Não deu ele resposta: Eu havia começado.





(James Oppenheim..em: Quatro mil anos de poesia. Coleção judaica. Ed. perspectiva, 1969)

23 maio, 2006

Amor Bastante

quando eu vi você
tive uma idéia brilhante
foi como se eu olhasse
de dentro de um diamante
e meu olho ganhasse
mil faces num só instante

basta um instante
e você tem amor bastante

um bom poema
leva anos
cinco jogando bola,
mais cinco estudando sânscrito,
seis carregando pedra,
nove namorando a vizinha,
sete levando porrada,
quatro andando sozinho,
três mudando de cidade,
dez trocando de assunto,
uma eternidade, eu e você,
caminhando junto

Paulo Leminsky

22 maio, 2006

.........................(Francis Bacon . lucian freud on orange couch. 1965)




Fala


Tudo
será difícil de dizer:
a palavra real
nunca é suave.


Tudo será duro:
luz impiedosa
excessiva vivência
consciência demais do ser.


Tudo será
capaz de ferir. Será
agressivamente real.
Tão real que nos despedaça.


Não há piedade nos signos
e nem no amor: o ser
é excessivamente lúcido
e a palavra é densa e nos fere.


(Toda palavra é crueldade)


Orides Fontela
.
A glória é como uma terrível catástrofe,
pior que a casa incendiada; enquanto
se abate a trave-mestra, o fragor
da destruição repercute-se cada vez mais depressa;
e tu contemplas tudo aquilo, inane
testemunha da danação.

Como uma bebedeira a glória devora
a casa da alma, revela que trabalhaste
para coisa pouca : para ela —
ah, queria que esse beijo traiçoeiro nunca tivesse
molhado a minha face : queria
fundir-me, só, para sempre, na obscuridade, na noite.



(poema escrito por Malcolm Lowry após a seqüência de elogios ao seu romance Under the Volcano, publicado por volta de 1945.)

18 maio, 2006














(Jonh Singer Sargent. a rainy day. 1909)



LLUVIA

La lluvia tiene un vago secreto de ternura,
algo de soñolencia resignada y amable,
una música humilde se despierta con ella
que hace vibrar el alma dormida del paisaje.

Es un besar azul que recibe la Tierra,
el mito primitivo que vuelve a realizarse.
El contacto ya frío de cielo y tierra viejos
con una mansedumbre de atardecer constante.

Es la aurora del fruto. La que nos trae las flores
y nos unge de espíritu santo de los mares.
La que derrama vida sobre las sementeras
y en el alma tristeza de lo que no se sabe.

La nostalgia terrible de una vida perdida,
el fatal sentimiento de haber nacido tarde,
o la ilusión inquieta de un mañana imposible
con la inquietud cercana del color de la carne.

El amor se despierta en el gris de su ritmo,
nuestro cielo interior tiene un triunfo de sangre,
pero nuestro optimismo se convierte en tristeza
al contemplar las gotas muertas en los cristales.

Y son las gotas: ojos de infinito que miran
al infinito blanco que les sirvió de madre.

Cada gota de lluvia tiembla en el cristal turbio
y le dejan divinas heridas de diamante.
Son poetas del agua que han visto y que meditan
lo que la muchedumbre de los ríos no sabe.

! Oh lluvia silenciosa, sin tormentas ni vientos,
lluvia mansa y serena de esquila y luz suave,
lluvia buena y pacifica que eres la verdadera,
la que llorosa y triste sobre las cosas caes!

! Oh lluvia franciscana que llevas a tus gotas
almas de fuentes claras y humildes manantiales!
Cuando sobre los campos desciendes lentamente
las rosas de mi pecho con tus sonidos abres.

El canto primitivo que dices al silencio
y la historia sonora que cuentas al ramaje
los comenta llorando mi corazón desierto
en un negro y profundo pentagrama sin clave.

Mi alma tiene tristeza de la lluvia serena,
tristeza resignada de cosa irrealizable,
tengo en el horizonte un lucero encendido
y el corazón me impide que corra a contemplarte.

Oh lluvia silenciosa que los árboles aman
y eres sobre el piano dulzura emocionante;
das al alma las mismas nieblas e resonancias
que pones en el alma dormida del paisaje!

Federico García Lorca

16 maio, 2006

Falsa receita

um destempero em pó
na ponta da língua

09 maio, 2006

O poema

O poema
essa estranha máscara
mais verdadeira do que a própria face...

Maria

Há três coisas neste mundo
cujo gosto não sacia...
É o gosto do pão, da água
e nome da Maria.

Amanhece

Um copo de cristal
Sobre a mesa
Inventa as cores todas do arco-íris...

in: A cor do invisível, Mario Quintana, ed. Globo

08 maio, 2006

"A estranheza dessa verdade deu para estarrecer de todo a gente. Aquilo que não havia, acontecido."
Terceira margem do rio, Guimarães Rosa

03 maio, 2006


O EIA, Experiência Imersiva Ambiental, é um grupo que trabalha mapeando, propondo e realizando ações de interessados em arte pública (performances, lambe-lambes e intervenções urbanas em geral). Por dois anos consecutivos (2004 e 2005), o EIA promoveu em São Paulo encontros para realização de ações artísticas nas ruas e também debates relacionados à arte, à cidade e ao espaço público, reunindo artistas e coletivos de todo Brasil. Interrogacidade é o momento de devolver estas experiências passadas à metrópole através de uma mostra de vídeos, também no espaço público, de todos os trabalhos realizados nesses dois anos por artistas que, de alguma maneira, participaramdo EIA, desde seu início em 2004. Os prédios da metrópoles serão a tela para as projeções, as ruas serão o campo para panfletagem, performances e música.
Acreditamos que apenas um ambiente híbrido e multidisciplinar é capaz de interrogar a cidade, incentivar o uso consciente dos espaços, gerando uma plataforma de convívio, trampolim para futuras imersões.


A CIDADE É UM ESPELHO FALSO
A IMERSÃO NOS AJUDA A SENTIR ONDE ESTÁ A BRECHA
E LÁ, NÓS CRIAMOS NOSSA GEOGRAFIA
NOSSOS UNIVERSOS
LIMITES DIALOGADOS QUE FORMAM O ESPAÇO

O interrogacidade vai agir nessa brecha, potencializar a possibilidade criativa e coletiva do ser humano para quebrar um pretenso espaço público e criar um REAL espaço público, onde nós nos sentimos representados, pois estamos lá agindo sem intermediários...

Participe!

http://eia05.zip.net