31 janeiro, 2007

I.

a mão que escorrega
- vagarosa -
do outro para mim

sua linha
minha linha

espalmado nosso fio
II.

o tempo entre que escorrega vagaroso

sua palma
minha palma

um abismo nosso fio

27 janeiro, 2007

fragmento 2

A cena que sua memória guardaria:
O ângulo formado entre a nuca e o travesseiro.
Uma luz que escapava não sabia de que lugar.
Flores secas amarradas por um barbante verde.
A mão direita segurando o ramalhete.
Uma pilha de livros num canto da sala.
No relógio, cinco para as dez.
Ele dormindo.
Três para as dez.
Vento frio na pele.
Ela acordada.
fragmento

Foi a cena que sua memória jamais guardaria:
O ângulo formado entre a porta aberta e o batente.
A luz que escapava por essa passagem da cozinha para o corredor.
O tecido gasto que amarrava na nuca os cabelos grossos da mulher.
A mão direita dela fechando a torneira da pia de mármore.
O esmalte rosa antigo descascando horrivelmente.
O vestido que ele nunca soube se era azul-marinho muito escuro ou preto. (Mas ela dizia que era petróleo...).
A voz de um locutor descrevendo o incrível nascimento de um leopardo no zoológico misturando-se ao ruído último jato d`água da torneira.
A conta de gás estrategicamente deixada sobre a cadeira onde ele costumava guardar sua maleta do serviço.
Os três latidos esganiçados do Peter no quintal.
O convite entusiasmado para ir com a mulher ao zoológico no sábado visitar o bebê leopardo.

25 janeiro, 2007

SE fores boa menina
dou-te um periquito azul
eu fui boa menina
e sem querer abri a porta da gaiola
se tivesses sido boa menina
o periquito azul não tinha fugido
mas eu fui boa menina

(Adília Lopes em Antologia)

17 janeiro, 2007

diminuto

a letra era miúda para que coubesse tudo.
a letra era miúda para que fosse lido na claridade.
a letra era miúda para que houvesse esforço.
a letra era miúda porque era tanto que não poderia desenhar grande. escreveu assim porque era sagrado.
coisas que gosto

www.caetanogotardo.blogspot.com

12 janeiro, 2007

sentido

Leu a história do Curupira para um trabalho. Quando suas orelhas ficam vermelhas, ele sabe que vem tempestade. Sorriu. Ela também, quando a face corava, sabia que vinha a sua.

06 janeiro, 2007


palavras de luís seixas, foto de rodrigo spina
areia, janeiro de 2007
virada
para m.

O mar no nome, o vestido vermelho - toda ela filha do ar, onde estão os mistérios. E para lá ela foi. Abrindo uma fenda no espaço, transformando-se em areia, sal, espuma; crescendo em força. Trazendo do lado de lá palavras sagradas.
No céu, fogos de artifício. Eu a olhava à distância, o meu lugar.

E à meia-noite, ao invés de pular as sete ondas, me aproximei e peguei sua mão.

Foi assim. Escrevendo quem acredita? Perto dos enigmas eu entrava o ano.