18 março, 2007

O NADA
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Despertei uma noite horrorizado
sem ter mais uma língua minha
nem linguagem minha e sem nenhum sinal de escrita,
sem me lembrar
de nenhuma letra do alfabeto nem de palavra alguma
em qualquer língua
e o terror foi então infinitamente elementar,
talvez o medo de um homem caído do alto de uma
árvore e sem perceber
chão nenhum por baixo
e como o medo de um homem atirado a um escolho
quando o navio
já desapareceu e a maré sobe e submerge-o
como o medo do pára-quedista cujo pára-quedas se
recusa a abrir
e como o medo de um seixo no vazio de um poço
e esse medo era sem voz sem sílabas sem letras
sem palavras
de modo algum metafórico. Sim, de modo algum
metafórico
e eu ia à deriva nas trevas
e como se não fosse eu na noite
não havia nada a que se agarrar nem a que se apoiar
e tudo era arrancado a tudo
a voz sem palavra nem caminho
eu mesmo sem mácula e sem encargo
e nem uma corda de forca para segurar
nem mesmo um abismo onde ficar pendente
e eu não sabia quem sou nem o quê
........................ — e eu já não era.
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(Aharon Amir. Tradução Cecília Meireles)

11 março, 2007

compartilhando

a vista lá é bonita:
http://www.pidgininofensivo.blogspot.com/

10 março, 2007


07 março, 2007

LANÇAMENTO

Livraria Berinjela, Bar Balcão,
7Letras e Cosac Naify convidam
para o lançamento de


Revista Inimigo rumor 19
Revista Ficções 16

a cadela sem Logos, Ricardo Domeneck
Rilke shake, Angélica Freitas
20 poemas para seu walkman, Marília Garcia
Atos de repetição, Valeska de Aguirre
Poemas do front civil, Ariosto Teixeira


Rio de Janeiro:

Sábado, 10 de março, às 10h

Livraria Berinjela
Av. Rio Branco, 185 – Subsolo – Loja 10
Tel (21) 2215-3528



São Paulo:

Segunda-feira, 12 de março, às 20h

Bar Balcão
R. Dr. Melo Alves, 150
Tel (11) 3063-6091
pedaços de Sumário Astral, de Joan Brossa


I
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(...)
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Todo mundo se pisa.
Descascam os frutos e não os comem.
As bandeiras são da cor do caos,
e a serpente é a senhora dos viventes.
O sal não evita que o mar apodreça,
nem as letras correspondem ao trabalho.
A prova é que o poder atua como único centro
e no mundo se produzem artifícios
que compactuam com todas as conclusões (e gêneros
de especulação) que seria conveniente abandonarmos.
A força das rochas não pensa.
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(...)
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II
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(...)
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Proponho-me a seguir esta via
e não a ser comido
por mim mesmo dia e noite
sobre o terreno que os outros escolhem
sem nenhuma força instintiva.
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(...)
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(tradução de Ronald Polito)

05 março, 2007


03 março, 2007

(...)

Parece ser um livro grande, prossegue Blue.
Sim, responde Black. Estou trabalhando nele há vários anos.
Já está terminando?
Estou chegando lá, explica Black, pensativo. Mas às vezes é difícil saber onde a gente está. Acho que estou quase acabando, mas aí percebo que deixei passar algo importante, e então tenho de voltar ao começo outra vez. Mas, sim, sonho em terminá-lo um dia. Um dia, em breve, talvez.
Espero que eu possa ler o seu livro, diz Blue.
Tudo é possível, responde Black. Antes de mais nada, no entanto, preciso terminá-lo. Há dias em que nem sei se vou viver o bastante.
Bem, a gente nunca sabe, não é? diz Blue, balançando a cabeça com ar filosófico. Um dia estamos vivos, no dia seguinte estamos mortos. Acontece a todos nós.
É a pura verdade, diz Black. Acontece a todos nós.

(...)


(Paul Auster. Fantasmas, A Trilogia de Nova York)