AMOR DE IMPROVISONessa segunda-feira, às 21h; dia 12/12, acontece a última apresentação do espetáculo "Amor de Improviso" com a
Cia. Elevador de Teatro Panorâmico. A peça está no Viga Espaço Cênico, rua Capote Valente, 1312, Pinheiros. A direção é de Marcelo Lazzaratto.
SERGIO SALVIA COELHO
CRÍTICO DA FOLHA
"Amor de Improviso" propõe um desafio instigante para o crítico. Como avaliar um espetáculo concebido para ser volátil, cuja trama dura apenas o efêmero momento em que é vista pelo público, e que nunca é a mesma de uma apresentação para a outra? Como o crítico pode julgar a performance de um determinado ator, se na sessão seguinte ela não será a mesma? Isso não é teatro, diriam os mais ortodoxos, ciosos pela reprodutibilidade do produto. Mas essa exploração das fronteiras do teatral tem o valor justamente de instigar o espectador, profissional ou não, a ir além do reconhecimento de uma fórmula consagrada. Em tempos em que shows milionários têm como chamariz justamente o fato de ser cópia fiel de um modelo distante no tempo e no espaço, a proposta do grupo Elevador de Teatro Panorâmico vem justamente resgatar a dignidade da criação artística: a de ser uma investigação de alto risco. O improviso não é novidade em teatro, dirão outros: faz parte integrante da busca da "memória emotiva" segundo o método Stanislavski (que, ao promover a identificação entre ator e personagem, acabou originando o psicodrama). Da mesma forma, durante o século 16, para os atores da commedia dell'arte, bastava uma trama a ser "bordada" a cada dia, sem texto fixo. Na experiência do Elevador Panorâmico, no entanto, o acaso é incorporado em doses bem maiores. O que o crítico pode antecipar é que o público poderá ver o diretor em cena, instigando caminhos possíveis ao pé do ouvido de cada ator, não raro com estímulos concretos (no dia testemunhado, um jarro de água foi despejado em cima de uma atriz, para seu idílio, culminando uma cena de amor). O próprio público é convidado para essa função: recebe ao acaso uma tarefa, em envelope, sobe ao palco e comunica-a ao ator de sua escolha, que deve concretizá-la imediatamente.Não se trata aqui de consagrar uma fórmula. Mesmo a técnica específica de Lazzaratto, o "campo de visão", pela qual o ator constrói sua marca em sintonia com o movimento de seus colegas, não é garantia de um espetáculo bem-sucedido. Nem todo experimental é relevante apenas por ser experimental, por mais que se arrisque. O que acontece aqui é que se trata de um espetáculo sobre o amor, seus riscos e heroísmos, seus lugares-comuns e esquizofrenias, concebido para ser feito em uma situação análoga ao apaixonado - estratégia usada por Roland Barthes, em "Fragmentos do Discurso Amoroso". E é a adequação entre a forma e o conteúdo, e a coragem e alegria dos atores, que garante o espetáculo.